Yaconawas

Chico dos Chicos

Num lugar bem pequeno um pedaço desse chão
Nasce Chico sonhador, pobre, humilde e cidadão
Hey moleque, joga o jogo, passa a bola
Aluno nota dez no campão lá da escola
Aprendeu a se virar desde muito cedo
Conheceu a malandragem e esqueceu o medo
Tem uma pá de camisa velha que ele usa pra roçar
Uma estrada pra cortar, seu sustento retirar
E prometeu para o seu pai vai vencer, vai lutar
O sol ainda não brilhou, mas Jesus vai me guiar
Nessa estrada de seringa desse meu país
Que um dia há de fazer um seringueiro feliz
Pressionado pelo sonho de ser rico... mano!
Foi embora pra cidade grande, "Agora eu tenho um plano"
Sem se preocupar com o que? Nem me liga não
Quem dera eu ter pelo menos uma televisão
A brisa leve da partida toca o seu rosto
Sua coragem quase mata seu pai de desgosto
Uma lágrima escorreu quando ele prometeu
Eu vou voltar pra te buscar mãe...
(...eu vou voltar pra te buscar...)

! Mas essa mata que mata esse povo infeliz
! Um dia há de fazer de um "Chico" um Rei
! Seringueiro Feliz, OH

Chegando a cidade grande, a selva de sofrimento e dor
Vingança, desespero e amor...
Primeira semana ta difícil, sem emprego e sem mulher
Não tem mais o que comer como o que vier!
Ta difícil pra... Nem me liga oh
A minha vida lá no campo era bem melhor
Por que a luz no fim do túnel não existe mais
E nem aquela dor e nem aquela paz
Tem a conta lá no boteco eu tenho que pagar
Tocar em frente lutar, "A vida vai melhorar..."
E no domingo ir a igreja pedir pro Pastor
Uma oração ver os irmãos, cantar um louvor
A burguesia ao tem cara, não tem coração
Se fecha e aliena, trabalho e produção
Quimera da sociedade que não tem Heróis
Absinto que amarga e cala a nossa voz
Me discrimina, ah... eu não to nem aí
Pode botar fé que eu vou até o fim
Sem temer aquele que adora a própria morte
Do Sul até o Norte, nossa bancada é forte
(...e se chama Região Norte!...)
REFRÃO
Depois de tanto lutar sem resultados alcançar
Desistiu de procurar, parou de sonhar
Desiludido porque não conseguiu vencer
Dois anos na cidade grande tinha que correr
Comprou um cano pra fazer parte do movimento
Pegou um bizú com um chegado que tava por dentro
Quinze dias depois era bem diferente
Pagou de carro alugado na rua lá da frente
Rolex no pulso e ouro no pescoço
Nem se lembra mais do fundo do poço
Droga tinha a pampa, era só querer
E se o "Zomi" embaçar... ele saber ferver
O dinheiro hoje em dia compra o que quiser
Respeito, carro, amigo, sexo, droga e mulher
Ganhou respeito na quebrada e inveja também
Pra ajudar não, mas pra falar sempre tem
E de repente... as coisas mudam de lugar
Até dinheiro pro seu pai já conseguiu mandar
A grana daquela fita, já ta acabando
Dessa vez a fita é grande eu vou bolar um plano
(...E vou meter uns canos !!!)
REFRÃO
Na sua cabeça ele pensa em altas fitas
Tipo arrochar moto burguesa, de joalheria
No outro dia ele decide entrar na loja do Patrick
Mas não viu o segurança nos fundos da boutique
Que ligou pra polícia e lotou de viatura
Agora Chico é a presa e os "zomi" na captura
Então se segue a cena, a fuga espetacular
Louco e terrorista pula do segundo andar
Levanta e dá de frente com os homens armados
Despreparado, atira pra tudo que é lado
Não acerta ninguém, é alvejado na testa
Cai no chão morto... chora toda floresta
Chora nossa mata a tragédia de mais um Chico
Na historia Acreano é mais um de nosso filhos
Nosso Chico dos Chicos, com um destino maldito
Vivendo na selva periférica no precipício
Salve o Chico, Salve a mata, Salve a selva
Salve o povo Acreano de nossas favelas
Salve o Estado do Acre, lugar de gente lutadora
Medalha de honrra pra maioria sofredora...
(...A que será vencedora)
REFRÃO