Wander Wildner Wander Wildner - Emaranhados Em Gambiarras Mal Ajustadas (part. Gustavo Kaly)

Eu me lembro de estar voando
Como qualquer outro pássaro urbano
Meio louco, meio doente
Absolutamente perdido

Em um mar de ruído e solidão coletiva
A caminho da minha própria morte
Quanto tempo um pardal sobrevive?
Eu não saberia dizer

Sou apenas um pardal
Ao menos não tenho tamanho suficiente
Para desintegrar minhas entranhas
Em emaranhados de fios elétricos

Em desalinhamento fatal
E como tem fios elétricos nessa cidade
Sobretudo nesse bairro
Emaranhados em gambiarras mal ajustadas

Deselegâncias tortas
Olha só, eu, um simples pardal, discutindo estética
Alinhamento, contraste, ênfase, hierarquia, movimento
Proporção, ritmo, espaço, unidade

Nada disso cabe a um pássaro discutir
Distingo as cores, todas
Tom sobre tom
Olhos de águia

E um corpo de um Papa sementes
Feio, sujo e malvado
Um malandro de asas na floresta de cimento
Lá embaixo eu vejo todos os tipos

Principalmente, tipos que não são bem tipos
Mas uma mistura de personagens
Aglomerados entre a tristeza e a perversão
Todos estão andando em direção da sua própria morte

Alguns deles, talvez
Nem ao menos sabem disso
Depositam sua confiança ao ser supremo
Eu não tenho alma

Tenho asas
Voo, sou um simples pardal
Bebo água suja e um telhado entregue aos musgos
Voo, sou apenas um pardal