Dos cascos do meu cavalo
Fiz saltar leivas no céu
E empurrei muita boiada
Cantando versos ao leu
Sou afilhado dos deuses
E até a morte me olha séria
Nas águas do Uruguai
Lavo minh'alma gaudéria
Junto c'o a poeira da goela
Trago carrapicho e espinho
Que andam comigo agarrados
No buraco do focinho
Gosto da noite fechada
Com fragrâncias e perfumes
E de cruzar o campo solito
Proseando com um vaga-lume
Se um dia eu me for pro povo
E não lidar mais com boiada
Vou ser uma estrela gaviona
Que se apartou da manada
Ao tranco sempre assoviando
Na pampa verde esperança
Meu cavalo é um barco solto
Num Rio Grande de águas mansas
Na janela de algum rancho
É coisa que me fascina
Dois olhos da cor do campo
Num rosto meigo de China
De vez em quando, me apeio
Num fandango campo afora
Sarandeio a noite inteira
Riscando a chão c'o as esporas
Quando me agrada a bolada
Na noite escura sem brilho
Acomodo uma chinoca
Na anca d'um Douradilho
Aos tapas com meu destino
Sou sempre teso e imponente
Quando a porteira da vida
Quer se fechar lá na frente
Se um dia eu me for pro povo
E não lidar mais com boiada
Vou ser uma estrela gaviona
Que se apartou da manada
Ao tranco sempre assoviando
Na pampa verde esperança
Meu cavalo é um barco solto
Num Rio Grande de águas mansas
Se um dia eu me for pro povo
E não lidar mais com boiada
Vou ser uma estrela gaviona
Que se apartou da manada
Ao tranco sempre assoviando
Na pampa verde esperança
Meu cavalo é um barco solto
Num Rio Grande de águas mansas