No meio da noite
Gritos de açoite
Pavor se instala
Dentro da senzala
Iyá protege o filho
Olhos perdem o brilho
Um rugido corta o ar
Lágrimas enchem um mar
Erauê, sou kekerê
Erauê, sou Ilê-Aiyê
A mão na chibata
Que bate e até mata
Não tem dó nem piedade
Nem respeita idade
Capataz sem coração
Dá castigo ao fujão
É justiça privada
E com isso ninguém tem nada
Erauê, sou kekerê
Erauê, sou Ilê-Aiyê
Gente, marca, gado
Tranca, tronco, roçado
Palmatória, viramundo
Não se perde um segundo
Diante de tanta dor
Pessoas sem pudor
Religião abençoa
Senhor e patroa
Erauê, sou kekerê
Erauê, sou Ilê-Aiyê
A ferida da escravidão
Dói em mim e na multidão
Igualdade há de chegar
Para todos um lugar
Nada para o tempo
Nem mesmo o contratempo
A Justiça é enorme
E Xangô não dorme
Erauê, sou kekerê
Erauê, sou Ilê-Aiyê