Sangue de Barro Sangue de Barro - A fila

Eu também sou da rafaméia
E vivo aqui, enquanto a alcatéia
Engravatada faz suas leis
E as empurram em nossa goela

Num lençol véio e bufento
Livro o corpo desse vento
Eu vivo nisso e sinto o frio
Das madrugadas do brasil

É segunda, terça e quarta
O baque é esse e ninguém escapa
A cada dia, a cada mês
Todos esperam sua vez

Ninguém sacou quando meu grito
Ecoou. mundo esquisito
E pra fechar, no fim das contas
Errado eu, que sou do contra

Uniformes cinzas marcham contra
A população
Dorme piada, umedecida, vendada
E vive sempre amordaçada
Nossa vida passa e nada disso se altera
Mas todo mundo tá na fila de espera

Ponto de ônibus
Já vem chegando a lotação
Aposentados
Eu vim pegar minha pensão
E os impostos?
Me diz pra onde eles vão
Enquanto a morte vem
Acompanhando uma procissão