Quanto tempo você leva pra conseguir entender
Que quando você fala de amor
Eu só to querendo viver
As ruas e as calçadas
Já sentem saudade do sangue das nossas transcestrais
Irmãs (na maioria pretas) que quebraram as cangas da sociedade
Pra hoje eu poder pensar em amar
Xica Manicongo
A minha espinha eu vou levantar
Faço um rezo pra ti
Pra tentar me localizar
Quanto mais eu me esforço pra pensar em afeto
Mais distante eu o vejo e mais remorso eu desperto
Não tem carinho, não tem afago
E antes disso não tem comida, não tem saúde
Arrancaram as nossas almas e as ofereceram
Num banquete para o ódio onde só os porcos comem
Das sobras renasceram as maiores guerreiras
Que portam no peito o ouro da mãe da cachoeira
Os nossos afetos são os próprios, quando isso não nos é retirado
Os nossos afetos são hackeados
Te dizem e te ensinam sobre sentimentos frustrados
Corpos bonitos, corpos rastreados
E
Implantam nos corações que nos batem e que nos matam
A mesma semente e o mesmo adubo envenenado
Hoje você ama alguém
Mas se você é trans
Amanhã
Você não será amado