O que apeia em pulperia
Percebe já na chegada
Que o tempo cruzou de fato
Bombeando a face judiada
Semblante rude, austero
Ouvindo sempre calado
Miles de causos e feitos
De quem golpeia oitavado
Tez morena já curtida
Por andar lejos no sol
Feito quem boleia a perna
Junto as luzes no arrebol
Pra beber a tarde calma
Que escorre pelo gargalo
E desencilha serena
Enquanto se põem a escutá-lo
Vai-se o tempo pelas rugas
No seu feitio de madeira
Sem fazer causo da morte
É a própria alma pulpera
Altar sagrado dos causos
Onde a vivência se topa
E ente debruça a história
Meu velho balcão de copa
Ritual que perfila a noite
Em cada trança contada
Pondo na forma tropilha
Embora muito encilhada
Sabe da vida e de todos
Mas por vaqueano não fala
Aprende mais que escuta
Ouve melhor quem se cala
Eterniza em cada marca
Que a ferro e fogo se veio
Cicatrizes e lembranças
De um bochincho mais feio
Já que olvidar não consegue
Silente segue aprendendo
Sem pretençoes de ser fierro
Pra ter memória esquecendo