Meu pingo Mouro, casco quebrado
Cola esfiapada, alma de vento
Se me balanceio pra qualquer lado
Ele sabe de mim pelo movimento
Meu pingo Mouro, cara de tatu
Fareja no vento o rumo seguro
Da noite negra, estrela na testa
Olhos de vaga-lume, enxerga no escuro
" Retouça se eu assobio alguma vanera
Meu pingo amigo, as vez', é criança
Não gosta de vanera, vejo pela maneira
Que troca as oreia' e estufa a pança "
Quando afloxo' o freio em campo aberto
E sinto o furor de pingo fogoso
Deixo minha alma nos cascos libertos
Pra depois suado, de pêlo lustroso
Ver-me em seu olhar, mirando de perto
Com bufos de gratidão de pingo bondoso
Meu pingo amigo, crina de garnizé
Se me vou sorrindo ou volto chorando
Vou firme nas rédeas sem perder a fé
Seja a galopito, seja tranqueando
Meu pingo Mouro, cogotudo, lançado
Fareja o perfume de china flor
Faz tremer a terra por um sapateado
Se tem lida de campo, é chuleador
Meu pingo bueno de pata, boca de padre
Meu irmão de clina, um raio na terra
Cusco manheiro de perdiz do mato
Relincho de cordeona, clarim de guerra
Quando afloxo' o freio em campo aberto
E sinto o furor de pingo fogoso
Deixo minha alma nos cascos libertos
Pra depois suado, de pêlo lustroso
Ver-me em seu olhar, mirando de perto
Com bufos de gratidão de pingo bondoso