Pela estampa, lá vem vindo João sem tropa de a cavalo
Com o lenço abanando as pontas, pendurado no gargalo
E um olhar de estrela guacha que brilha ao cantar do galo
E um olhar de estrela guacha que brilha ao cantar do galo
João sem tropa não tem tropa, mas tem um jeito fidalgo
O mundo embaixo das patas do seu douradilho salgo
E a guarnição crioula d'uma parelha de galgo
E a guarnição crioula d'uma parelha de galgo
João sem tropa tem a liga de poeira, vento e sereno
Sabe o que mata e o que cura entre remédio e veneno
E não facilita o jogo que torna o grande pequeno
E não facilita o jogo que torna o grande pequeno
O tempo tem suas manhas e os seus segredos não conta
Mas quando, um dia, o destino, pra este guapo, der a conta
Vai escutar o João sem tropa chamando a vida na ponta
Vai escutar o João sem tropa chamando a vida na ponta
João sem tropa, por vaqueano, não se embreta em sanga feia
Não se perde em noite escura sem lumes de lua cheia
Vai farejando horizontes pra o lado que o sol clareia
Vai farejando horizontes pra o lado que o sol clareia
João sem tropa não tem rancho, mora embaixo do chapéu
Crê em Deus e na certeza da armada do seu sovéu
Que, num pealo, corta fora, é um raio que cai o céu
Que, num pealo, corta fora, é um raio que cai o céu
Em cada garrão, uma pua de puro aço templada
Em cada pulso, o palanque, que escora qualquer trompada
E, dentro da alma, os remansos de um lagoão com boa aguada
E, dentro da alma, os remansos de um lagoão com boa aguada
O tempo tem suas manhas e os seus segredos não conta
Mas quando, um dia, o destino, pra este guapo, der a conta
Vai escutar o João sem tropa chamando a vida na ponta
Vai escutar o João sem tropa chamando a vida na ponta