Como uma chuva de estrelas caindo por sob os campos
Faíscam mil pirilampos e teu olhar de xirua
E as sangas murmuram suaves quando o vento tresnoitado
Guitarreia no alambrado pra fazer dormir a lua
Teu corpo, nos meus pelegos, tem aroma de trevais
E eu domo instintos baguais que, na minha alma, se acampam
Ao ver-se acender em brasas, alumbrando o teu descanso
Quando um solzito, boi manso, surge ao tranco na pampa
Quando despertas serena reinventando primaveras
Meu coração de tapera floresce feito um jardim
Busco a mirada paysana colhendo urros de salamandra
É o Rio Uruguai que se estanca inteiro dentro de mim
E, então, descubro que a vida é muito mais que um caminho
Quando se tem um carinho amansando a alma da gente
As pedras se fazem flores e os espinhos já não importam
Porque os punhais que nos cortam são águas de uma vertente
De uma vertente morena que forma a paz de dois lagos
No olhar mais lindo do pago que, um dia, eu pedi pra Deus
E, desde então, no meu rancho pequeno, pobre e de fundo
Há toda luz desse mundo olhando pros olhos teus
Como uma chuva de estrelas caindo por sob os campos
Faíscam mil pirilampos e teu olhar de xirua