Tão dolorosa quanto a luz das fabricas
Tão valiosa quanto a dose de graxa
Tão bem cuidada que não pode andar
Tão ressarcida que só pode olhar
Tão iludida que só pensa em amor
Tao calejada que não sente mais dor
Tão informada que só pensa em comer
Tão sã e viva que só vive pra viver
Como deixas comerem seu nome
Seu carro, seu telefone,
Seu passaporte, sua família
E sua camisa?
Por que queixas do clima
E se esquece de todo aquele horror?
Por que notas no jogo
O que não notas na causa de todo o torpor
Na casa de cada operário
Na casa de cada empresário
Na causa de cada operário
Vamos pra casa
Comemorar
Tem cervejada
Vamos cantar
Acorda e tenta ver:
Por que não dá pra ter,
Por que não da pra ir,
E nunca vai sair?
Aponta, sem medo
Quem que corta suas mãos
Que suja suas mãos
E sempre tem razão
Me conta, pra ontem
Quem que paga seu perdão
Que compra a sua mão
E vende num leilão
Como deixas almoçarem seus olhos
Seu braço forte, sua virilha
Sua perna esquerda, sua orelha
Sua unha curta, seu dedo
E sua sinuca?
Por que compras na esquina
O que vendeste por todo aquele suor
E costura com as linhas
Mais 463 horas de trem
355 De metro
2223 De busão
E 96 pé no chão
Tão desgastada como um grupo enorme de pistões febris
E acabada como uma manada de zumbis civis
Tão calorosa como a luz as fabricas
Tão valiosa quanto a luz das fabicas
Tão infecciosa como a luz das fabricas
Tão mal cheirosa quanto a luz das faricas