Acolher o caos
Recolher os cacos
Já não recuso as quedas
Deste sutil naufrágio
Acolher o caos
Recolher os cacos
Assentir o abismo
Revelando espaços em si
Cada tombo é na verdade
Um improviso clandestino
Mas não revelo
Busco desabar como quem dança
E o desejo insaciável
De cutucar a onça com vara curta
Mas sempre há o risco do próprio ferrão
O pior risco é o próprio veneno
Todo mês o baque do corpo no chão
Acolher o caos
Recolher os cacos
Não se dar por vencido
Nem sofrer calado
Acolher o caos
Recolher os cacos
Não temer os cortes
Por vezes necessários, enfim
Cada tombo, na verdade, é um convite aos próprios breus
Não sei ao certo
Busco repousar em meus abismos
Até que estes me ensinem
Você se importaria de devolver
Aos teus rios, circulação
Às águas, o seu movimento
Atenção, nem marasmo, nem embriaguez
Acolher o caos
Recolher os cacos
Não temer os cortes
Por vezes necessários
Acolher o caos
Recolher os cacos
Permitir o abismo
Revelando espaços em si