Natália Xavier Natália Xavier - Revirada

Acolher o caos
Recolher os cacos
Já não recuso as quedas
Deste sutil naufrágio

Acolher o caos
Recolher os cacos
Assentir o abismo
Revelando espaços em si

Cada tombo é na verdade
Um improviso clandestino
Mas não revelo
Busco desabar como quem dança
E o desejo insaciável
De cutucar a onça com vara curta

Mas sempre há o risco do próprio ferrão
O pior risco é o próprio veneno
Todo mês o baque do corpo no chão

Acolher o caos
Recolher os cacos
Não se dar por vencido
Nem sofrer calado

Acolher o caos
Recolher os cacos
Não temer os cortes
Por vezes necessários, enfim

Cada tombo, na verdade, é um convite aos próprios breus
Não sei ao certo
Busco repousar em meus abismos
Até que estes me ensinem
Você se importaria de devolver
Aos teus rios, circulação
Às águas, o seu movimento
Atenção, nem marasmo, nem embriaguez

Acolher o caos
Recolher os cacos
Não temer os cortes
Por vezes necessários

Acolher o caos
Recolher os cacos
Permitir o abismo
Revelando espaços em si