Calo meus olhos que temem meu pranto
Apago minha boca sozinha em meu rosto
Um nó na garganta por todos os cantos
Dói quando engulo lembranças sem gosto
Eu vejo o espelho sempre acompanhado
Por olhos vermelhos e braços cruzados
Palavras e gestos caindo dos galhos
Surgindo dos restos das gotas de orvalho
E a rosa plantada na areia da praia
Não consegue ver que é uma rosa
E por mais tarde que a chuva caia
Pro seu jardineiro é sempre formosa
E a estrela que brilha em meio à meretrizes
Não vê que é uma estrela caindo
Mais que um refúgio para infelizes
Recebe frustrações e dores sorrindo
Tapo meus ouvidos, correndo assustado
Por dias perdidos e peitos fechados
Crianças com fome dançando no escuro
Amor é só algo escrito em um muro
E a gaivota perdida em meio à avenida
Não consegue ver que pode voar
Como aquele alguém que sumiu de sua vida
Quando viu que você não ia mudar
E o cara trancado num mundo em crise
Chora e ri com sangue a derramar
Se todos nascemos pra viver felizes
Felicidade não é um bom lugar
E os olhos voltados para o céu em chamas
Têm dificuldade em aceitar
Uma vida inteira jogada na lama
Em devoção ao invés de provar
Um sabor amargo na boca
A fé agora cheirando a rancor
A felicidade é uma meretriz louca
Extrema unção de todo esplendor