Me chamo Laurindo Pedra
Do campo sou elemento
Carrego marcas no corpo
Com cicatrizes do tempo
Rolando ganhei o mundo
Lasquei, mas sobrevivi
Por certo guardo memórias
Das outras pedras daqui
Falo das boleadeiras
Que andavam sempre a cavalo
Voando livre nos campos
Matando a fome num pealo
Viram a doma de perto
O potro, o queixo quebrado
Viram a poeira e o tombo
No rito de um batizado
Vi pedras sentando o fio
De facas muy carneadeiras
Tirando tentos pra os laços
Serviço de tarde inteira
A mesma faca afiada
Sangrava sem ter perdão
Descascava fruta doce
Na sombra de um “cinamão”
Eram de pedra as mangueiras
Acomodadas com jeito
Guardavam todas na forma
Histórias do rio e do leito
Cercaram miles de bois
Na sesmaria da estância
Foram castelos gigantes
Nas brincadeiras da infância
Não faltariam palavras
Tampouco pedras, eu sei!
Mas como também sou barro
Encerro e me calarei
Cantando a pedra inerte
Que sela o fim da existência
Assim que virarmos pó
Trocando de pago e querência