A faxina ficou da hora
Tá tudo limpo pra visita, daqui umas horas
Tanto faz se vem cigarro, sem novidade
O que cada preso quer é matar sua saudade
Sentir a liberdade por uns minutos
Sonhar com um mundo depois dos muros
Esquecer o dia da audiência
O fórum, a hora da sentença
Juiz implacável, advogado desinteressado
Porta-de-cadeia limitado a prostituta do Estado
Estilo piranha: Sem dinheiro, sem resultado
Tem maluco aqui que cumpre pena tipo diretoria
Heh, status na farinha
Dinheiro compra tudo, na cadeia, na favela
Mas não tira o esquecimento da cela
A solidão no domingo de visita
Olha eu de canto, sonhando com uma família
Sem sorriso, o domingo é velório
Olho pros muros, explode o meu ódio
E é aí que sai treta, eu me transformo em capeta
Na falta de carinho, violência é receita
Eu tô sem jumbo, sem parente, sem ninguém
Sou candidato à faca que mata o refém
Sou eu que jogo o 213 do telhado
Eu jogo pedra em cima, jogo telha no safado
Feliz aniversário foi no mês passado
O bolo era um defunto e os parabéns foi pro diabo
Aí ladrão, feliz domingo!
Infelizmente, só colou tristeza, mas tá limpo
Eu vou tentar continuar sobrevivendo
Solitário, esquecido, no pavilhão do esquecimento
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Abandonado, solitário
Outro presidiário
Outro domingo na detenção
Sem futebol, sem criança, sem parque de diversão
Na nossa televisão, o filme é impróprio
O sangue na faca é o cartaz do ódio
Ainda me lembro da quebrada:
Tiger, moto Kawazaki mil cilindradas
Só de agasalho, piranha do lado
S10 velocímetro zerado
Qualquer armamento era comigo
Banco, carro forte, hã! Parceiro preferido!
Tinha mãe, irmão, vários manos
E uma vadia no carango, dizendo 'te amo'
Mas num estalo de dedos, passe de mágica:
Pulso algemado, consequência drástica
Fim de carango, fim de artigo
Hoje tenho uma cela com vinte no presídio
Olho pra cruz na parede e peço proteção
Que Deus dê vida pra eu mandar uns quatro pro caixão
Me sinto tipo uma doença, um cachorro sarnento
Mais podre do que bosta no papel higiênico
O sistema carcerário não tem dó
O coração é de pedra, foda-se seu BO
Seu carango, seu fuzil, não valem aqui
Aqui é só outro número tentando fugir
Tiazinha, visita o seu filho
Aí fulana, vai ver o seu marido
O monstro na notícia da televisão
Que te mata sem dó, descarrega um oitão
É o mesmo que domingo chora só no pavilhão
Que tenta o suicídio pra fugir da solidão
Aí ladrão, feliz domingo!
Infelizmente, só colou tristeza no pavilhão dos esquecidos
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Sou mais um detento
Cumprindo pena no pavilhão do esquecimento
Abandonado, solitário
Outro presidiário