Pow, pow! O miolo voou, o boy caiu
Os gambé vieram a mil, farejando o sangue do tio
Que piada a blindagem, cerca elétrica
Se liga na sequela, puta rica, viúva histérica
Eu não sou fictício, sou monstro agressivo
Que tá no noticiário, fazendo o refém sangrar pelo ouvido
Caí na armadilha, fiz pacto com o capeta
Trocaram minha caneta pela escopeta
Me colocaram num Opala, embaixo da chuva de bala
A 180 dando fuga da agência bancária
Me ensinaram que conforto, só com o doutor morto
Com a 7,65 no pescoço
Por isso eu toco o interfone, o zelador abre o portão
Disfarçado de carteiro, caio pra dentro com a Uzi na mão
O boy cuzão que só ve morte pela Sky no sofá
Não foi pra Europa, agora assiste meu Desejo de Matar
Agiliza os dólares, os diamantes
Se não arranco teu coração, te afogo no rio de sangue
Quis ser advogado, mas perdi pra rua
Vim cobrar com juros meu sonho de formatura
Ódio lapidado por um pai, bêbado, porco
Que batia na minha mãe porque não podia comprar o almoço
Fez de mim o Lúcifer que o sistema quer
Que pela pedra deixa teu corpo pra perícia do gambé
Eu to fazendo o que o sistema quer
Pra mim não tem Cherokee nem iate
Nem restaurante cinco estrelas, nem Audi
Eu só como lixo, tomo tiro de investigador
Enquanto o boy tem clube de campo, conta no exterior
Então fudeu, doutor! Vou buscar a igualdade
De PT com adaptador de 30, na crueldade
Não quero ser igual o tiozinho do bairro
Que trampa quarenta anos pra passar fome aposentado
Nem igual minha mãe, doente, sem médico
Pedindo esmola com a receita pra comprar remédio
Cuzão que come caviar e lagosta
Não sabe o que é viver um minuto nessa porra
Pega o dono da mansão e põe no barraco
Quando o filho dele chorar, sem ter nada no prato
Não vai pra rua implorar de mão estendida
Vai catar a BMW da burguesa vadia
Vai subir corrente, se pá até os dentes
Vai ter festa no necrotério, o legista contente
Seu chip no peito não vai me segurar
Vou deixar seus pedaços pro satélite rastrear
Se não blindar o coração, não tem cooper na praça
Se não pôr armadura, não tem surfe na praia
Quando for pro teatro ver Shakespeare com sua mulher
Pá, pá! Na cabeça, como o sistema quer
Eu to fazendo o que o sistema quer
Sou outro brasileiro, favelado, sem sorte
Que vai morrer roubando o carro forte
Que vai tá agonizando no chão do Itaú
Vendo a risada do boy porco de olho azul
Uma chance em um milhão de vencer como bandido
100% De chance de mofar num presídio
História real, das famílias da periferia
Vem conferir quantos têm passagem na polícia
Ver quantas mães têm santinho guardado
Do filho que por um real foi executado
Espantoso, surpresa, pra quem tem tudo na mesa
Fartura no armário, é dono de empresa
Me diz se não parece filme do seu DVD
O ladrão encapuzado invadindo o DP
O delegado metralhado no meio da rua
O caixa eletrônico na caçamba da perua
Na real é ódio, faca no coração
A busca a qualquer preço da ascensão
Preferia tá na escola na biblioteca
Tá no shopping comprando pra minha filha uma boneca
Ter cartão de crédito, cheque cinco estrelas
Não tá matando alguém pra pôr o leite na geladeira
Mas, infelizmente, o que o sistema quer
Sou eu com fome, atirando na madame de chofer
Eu to fazendo o que o sistema quer