A boca só se cala quando o tiro acerta
Eu sou o sangue e o defunto no chão da favela
A oração da tia sem comida
O mendigo com a perna cheia de ferida
Eu rimo o ladrão que mata o playboy
O viciado que toma tiro do gambé do GOE
O detento que corta o pescoço do refém
O alcoólatra no bar bebendo 51 também
Canto a história do traficante
Do ladrão no banco bebendo seu sangue
Do moleque com a testa no muro da FEBEM
Do nordestino tomando sopa na CETEM
Canto o corpo que boia decomposto no rio
A 12 que entra na mansão a mil, cadê o dinheiro tio?
Não tem, então bum, vai pra puta que o pariu
O meu assunto é favela, farinha, detenção
Sou locutor do inferno até a morte
Facção é uma gota de sangue em casa depoimento
Infelizmente é rap violento
Lamento, versos sangrentos
Pode ligar, pode ameaçar
Enquanto a tampa do caixão não fechar minha voz tá no ar
A boca só se cala quando o tiro acerta-tá
Quando o tiro acerta
Falo do mano com a PT carregada
Que por porra nenhuma te mata
Da criança vendendo seu corpo por nada
Da família que come farinha com água
O humilde brasileiro aqui da periferia que usa tênis da barraca
Camisa da galeria, canta pro moleque
Com fome sem conforto não roubar seu Rolex
E não cortar seu pescoço
Dá os dólares se não vai pro inferno
É isso que eu tento evitar com meu verso
Que defende quem não pode se defender
Que tá do lado de quem assalta pro filho comer
Não aceno bandeira, não colo adesivo
Odeio político, a única campanha que eu faço
É pelo ensino e pro meu povo se manter vivo
Não enquadrar o boy de carro importado
Abaixar o revólver, procurar um trabalho
É uma gota de sangue em cada depoimento
Infelizmente é rap violento
Lamento, versos sangrentos
Pode ligar, pode ameaçar
Enquanto a tampa do caixão não fechar minha voz tá no ar
A boca só se cala quando o tiro acerta-tá
Quando o tiro acerta
Não canto pra maluco rebolar
Meu som é pra pensar, pra ladrão raciocinar
Não tô na TV nem no rádio
Não faço rap pra cuzão balançar o rabo
Quero minha voz dando luz
Pro presidiário denunciando a podridão do sistema carcerário
Tirando a molecada da farinha
Não quero seu filho na mesa do legista
Eu tô do lado da criança como fome desnutrida
Que dá bote na burguesa e corre na avenida
Eu sou igual qualquer ladrão, qualquer assassino
Um revólver, um motivo é só o que eu preciso
Pra roubar seu filho; meter um latrocínio
Quem viu a mãe pedindo esmola tem sangue no raciocínio
Meu ódio, meu verso, combinação perfeita
A revolta do meu povo é o veneno da letra
Menos violenta que um prato com migalha
Ou o ladrão te cortando com a navalha
Eu canto o cortejo do carro funerário
O pai de família sonhando com salário
É uma gota de sangue em cada depoimento
Infelizmente é rap violento
Lamento, versos sangrentos
Pode ligar, pode ameaçar, enquanto a tampa do caixão
Não fechar minha voz tá no ar
A boca só se cala quando o tiro acerta-tá
Quando o tiro acerta